Às vezes, ao som de Caetano
Foi no silêncio da noite que descobri tanto ruído. Sabe? É ensurdecedor o disparo de um coração ansioso.
O escuro do quarto ganha as formas mais complexas e desenham no teto aqueles desejos mais profundos.
Ou será que foram devaneios?
Enquanto os primeiros raios de Sol atravessam a janela e trazem aquele tom azulado ao recinto, penso se não deveria ter me entregue logo àquela fumaça. Inerte, logo pegaria no sono – mas encontraria contigo, de qualquer forma.
Talvez não fizesse diferença.
Se aqueles acordes, altos nos ouvidos, fazem doer minhas batidas de maneira tão profunda quanto o grave do Baixo, ao menos sinto à minha maneira os questionamentos dos meus enganos.
Porque, apesar de parecer triste, a solidão nunca me enganou. Aprendi a me apaixonar por ela, a apreciar o sentir que ela me traz, a criar com as minhas próprias tristezas e a viver no meu mundo paralelo.
A melancolia sempre me acompanhou. Madrugadas adentro, seus braços gélidos me abraçam e trazem arrepios que, talvez, nenhum calor me traga. Nem mesmo o seu.
Caetano já dizia: “quando a gente ama, é claro que a gente cuida". Você diz que quer, mas desaparece. Diz que pensa, mas esquece. Você diz que é sonho, mas quer que o cobre. Você fala que ama, mas será que não é da boca para fora?
E eu fico aqui, sonhando acordada. Junto o antes, o agora e o depois. Mas não chego a nenhuma resposta.
Não entendo as suas visitas, mas me entorpeço nas suas palavras e me confundo nas suas atitudes.
O pior é que perco toda a minha coragem. Porque naveguei em direção a um medo, me apaixonei por algo do qual fugiria. Me viciei nessa andrenalina que é gostar de você.
Mas agora volto a minha pequinês. Volto a minha desordem e recolho o que sobrou do meu (escasso) orgulho. Reúno minhas inseguranças, minha timidez, minhas insuficiências e tolices. Porque, apesar de tanta graça, onde está você agora?
No fim, é sempre a noite que me acolhe.