Escrevi pouco em 2019

Camila Milani
3 min readNov 22, 2019

Na realidade, escrevi sobre tudo o que não queria escrever. (E também bebi bastante)

Pense na seguinte situação: você ama escrever, mas precisa escrever muito e sobre tudo. Coisas que você nem gosta ou conhece. As expectativas estão muito altas, e todos esperam nada menos do que a perfeição. Mas, a todo instante, você se sente insuficiente, inseguro e infeliz.

Este foi o meu 2019.

Mas hoje, pela última vez, vou escrever não o que quero, mas o que precisa ser escrito. Não à necessidade de outro alguém, mas pela minha.

Em 2019 eu escrevi pouco porque fui uma versão inédita, uma faceta completamente diferente. Julguei, até mesmo, que aquilo era bom e necessário. Afinal, vai que tudo daria certo e a “brand new me” fosse melhor do que a original.

Meu senso de responsabilidade triplicou em 10 meses. Eu não dormia antes de escrever um bom texto – ou antes de fazer as pessoas acreditarem que aquele era um bom texto.

Enfiei nos bolsos a introversão e fui me apresentar a pessoas “importantes”. Ignorei todos os receios, insegurança e embaraço. Ganhei algumas crises de ansiedade mas, tudo bem, a “nova eu” era uma versão melhor.

Joguei fora o meu all star e os troquei por um par de scarpin. Ganhei boletos, um “parabéns”, bolhas e uma caixa de Needs para os pés.

Conheci muitas pessoas novas. Muitas. E amei muito a todas elas. Achei incrível cada conversa, cada história e vivência. Achei, também, engraçado o fato que de todas eram pelo menos 10 anos mais velhas do que eu e, mesmo assim, nos demos tão bem. Vi todos os queridos irem embora, um por um, de cada vez. Até que restasse apenas a mim. Então, ganhei o maior número de decepções em 23 anos de vida e a percepção de que a frase que meu falecido avô dizia é a mais pura verdade: “amigo é dinheiro no borso”.

Percebi que a “brand new me” não era eu de fato. Eu não era um batom vermelho (que eu tentava disfarçar com papel higiênico) e um par de scarpin.

Eu não sabia deixar de virar os olhos ao sentir asco, eu não sabia sorrir quando queria chorar, eu não sabia ter tesão ao escrever algo do qual não gosto ou nem conheço.

Eu não era para aquilo e minha máscara não servia mais.

Ainda estamos em 2019 e, veja só, não titubeei nem uma vez durante a escrita deste texto.

Por mais que seja da minha ciência que muitos prefiram ao scarpin em detrimento do all star, prefiro deixá-lo no fundo da sapateira.

Identifico e me afasto do tóxico. Insisto e defendo meu tênis surrado, meus textos em primeira pessoa, as crônicas clichês sobre amor e os termos em inglês no meio do português.

Não há necessidade de lapidação no natural. O encaixe é genuíno.

E por isso, (assim espero) este é o meu último de 2019.

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