Apesar de pronome, “Ela” não era “eu”
Conheço essa tua quente extensão, esse teu Sol em forma de pele. Conheço bem estas tuas digitais e o poder que carregam em seu toque.
Extasiei-me pela exclusividade, pelas palavras doces e pronomes possessivos. Um universo particular, sensações cuja atribuição de substantivo só existiria no meu dicionário.
— “Minha”.
— “Meu”.
E, veementemente, pus minha crença nesta intensidade tão singular, tão nossa. Acreditei no “nós”, na nossa única e singular troca. Porém, do nosso “tu” e “eu”, surgiria um novo pronome.
Um pronome tão antigo, pessoal do caso reto, transformaria esse Sol “meu” em “dela”.
Os pronomes possessivos mudaram de pessoa.
A água que desaguava pelos braços, as estrelas que colidiam, os fios que se emaranhavam… Todo o “nosso” talvez, agora, possa ser “dela”.
As mãos, os dedos e digitas – talvez os lábios – tão perfeitamente moldados a nossa intensidade, ao nosso pronome, talvez, agora, não fossem apenas “meus”.
E, talvez, eu nunca possa ter esta certeza, se o “meu” ainda é “seu”, se o “seu” ainda é “meu”. Se o “ela” é passageiro e sem significância.
Mas a pele que tocaste não era minha, a superfície que percorreste também não era minha.
Talvez eu não seja mais “sua”, porque, apesar de pronome, “ela” não era “eu”.